Credo!


Deve haver poucas músicas com uma letra como esta, do grande Chico Buarque (acima com Zizi Possi). Copio-a na íntegra. Atentem-me nisto:

Pedaço de Mim

Oh, pedaço de mim
Oh, metade afastada de mim
Leva o teu olhar
Que a saudade é o pior tormento
É pior do que o esquecimento
É pior do que se entrevar
Oh, pedaço de mim
Oh, metade exilada de mim
Leva os teus sinais
Que a saudade dói como um barco
Que aos poucos descreve um arco
E evita atracar no cais
Oh, pedaço de mim
Oh, metade arrancada de mim
Leva o vulto teu
Que a saudade é o revés de um parto
A saudade é arrumar o quarto
Do filho que já morreu
Oh, pedaço de mim
Oh, metade amputada de mim
Leva o que há de ti
Que a saudade dói latejada
É assim como uma fisgada
No membro que já perdi
Oh, pedaço de mim
Oh, metade adorada de mim
Lava os olhos meus
Que a saudade é o pior castigo
E eu não quero levar comigo
A mortalha do amor
Adeus

...

...

É de cravar facas no peito, nas feridas todas, na testa, cortar os pulsos e os tornozelos...

A versão que queria mostrar-vos era a da Simone, mas no Youtube não a encontrei completa (o final é súbita e cruelmente interrompido) e a gravação ao vivo tem um instrumento de teclas insuportável.
Graças ao Grooveshark deixo-vos o audio, que é o que interessa:



É disto que me lembro, de pequena. Parte de um álbum, que adorava (o último da Simone passível de tanto, a meu ver), intitulado "Pedaços".

O disco tinha, entre outras, esta "Começar de Novo", do Ivan Lins, que se inscreve perfeitamente na temática deste blog, embora contendo já um tom de esperança, de renascimento e sobrevivência. Mas isso é bom (além do mais não posso exagerar; não quero que me acusem de submergir, ainda mais, a cabeça no lodo a quem já por lá anda a debater-se).



E esta, que apela à repetição dos erros, também boa para quem está à beira da tentação:




Ainda esta, que também fala do fim de um relacionamento mas com alguma alegria melódica, por isso, cá vai:

Saindo de Mim by Simone on Grooveshark

E, para terminar, outra que não entra neste quadro mas é tão gira (também do Chico Buarque)...


Alma mater


"Já nem chorar me traz consolo" e "antes sozinha toda a vida que ter um coração que mente" são frases que, só por si e em determinadas circunstâncias, já ligam o interruptor do choro. Com esta melodia nostálgica do Rodrigo Leão, então, é tiro e queda, mas queda aparatosa.

Do álbum "A Mãe", com a colaboração dos Cinema Ensemble, entre outros, o tema "Vida Tão Estranha", que aqui se escuta em gravação num espectáculo no Casino Estoril, ganha, como em tantos outros casos, particular candura e beleza com a voz da Ana Vieira.

Em tempos assumi que Ana Vieira era a grande intérprete da música portuguesa, pouco conhecida porque, insistentemente (e ao contrário do que acontece na maioria dos casos), cada vez que um tema do Rodrigo Leão passa, na rádio ou na televisão, o nome que o acompanha é o do autor/compositor, peça fundamental e fulcral nesta identidade sonora. Mas não deixa de ser injusto, principalmente num contexto cultural como o nosso, que o nome da cantora não chegue ao público.

Veja-se o caso, mero exemplo, de "Voltar".

Inúmeras colaborações há, felizes, de vozes femininas com Rodrigo Leão (assim como de variados músicos). Mas para o efeito que se pretende , deixo aqui outra musiquinha que, uma noite, chegada a casa com a incumbência de chorar (a conselho de uma amiga sábia e porque era preciso), fiz passar no iPod em loop, até que adormeci (a chorar, de facto). Estávamos no final do ano de 2005 e passados dois ou três dias acabei, curiosamente, por passar o réveillon, nada mais, nada menos, que em casa do grande compositor.

Neste caso é Rosa Passos que dá a voz a "Rosa", do álbum "Cinema".